domingo, 10 de setembro de 2017

MOTELX 2017 - Dia #3: Better Watch Out (2017), The Untamed (2016), The Endless (2017), The Masque of the Red Death (1964)

O terceiro dia do MOTELX 2017 foi variado, do home invasion/exploitation de Better Watch Out, ao drama familiar com elementos de fantástico de Untamed, passando pela bela homenagem a Roger Corman na mítica sala do Tivoli com a exibição de Masque of the Red Death de 1964, o filme mais interessante do dia.

Better Watch Out: A originalidade é um conceito quase impossível no cinema de 2017. Pode parecer um lugar comum, mas ao longo de mais de 120 anos de história da sétima arte já tudo foi feito, nem que seja conceptualmente. Better Watch Out quer surpreender as regras de género pré-estabelecidas, colocando, num primeiro momento, babysitter e miúdo de 12 anos sozinhos em casa no Natal perante uma home invasion à Sozinho em Casa versão terror. Tudo expectável e agradavelmente bem feito até um realmente inesperado plot twist que transforma Better Watch Out num esquisito torture porn à Funny Games de Haneke ou, mais recentemente, Knock Knock de Eli Roth, que desafia a curiosidade do espectador com interpretações verdadeiramente bizarras. Nota-se bem que a intenção é fazer algo diferente, algo de negro/sádico num contexto idílico de renas e jingle bells, e a verdade é que funciona bastante bem. Better Watch Out é um filme de Natal fora do contexto para os meninos maus que não gostam de seguir regras.



The Untamed: Vencedor do Leão de Prata em 2016 para melhor realizador em Veneza, The Untamed é um drama familiar com elementos de fantasia que é diferente do habitual, mas que não assume interesse particular em nenhum momento, além de um moderado mistério que pouco vai além da simbologia de luxúria. Cinematograficamente irrelevante, é difícil de perceber o elogio de alguma crítica à sua realização, anónima, com um argumento irregular que deixa vazias as poucas questões que coloca. Além do seu retrato social que tem, a espaços, momentos de interesse, The Untamed tem alguma alma, mas acaba por não concretizar nenhuma das muitas ideias que vai sugerindo, sempre de forma tímida, como se temesse o comprometimento.



The Endless: Apresentado no Motelx pela sua dupla de realizadores através de vídeo, The Endless fala de dois irmãos, interpretadores pelos próprios realizadores, argumentistas, entre outras inúmeras funções onde constam nos créditos, que escaparam de um culto/comunidade quando eram jovens e decidem voltar 10 anos depois para ver se tudo era realmente como se lembravam. Em primeira instância, apesar de uma certa sensação de amadorismo, o filme está bem embalado, com uma boa trama, mas com o decorrer do tempo e introdução repentina de elementos de fantasia deitam tudo por terra, fazendo com que The Endless se aproxime mais de um episódio de uma qualquer série do Sy-fy ao invés de um filme de terror/mistério independente. The Endless quer ser muita coisa, do drama familiar ao terror, é ambicioso e com muitas ideias que infelizmente não conseguem passar eficazmente para o écrã em nenhum momento.



The Masque of the Red Death: Roger Corman veio ao Motelx como convidado de honra e apresentou na belíssima sala do Tivoli o seu filme de 1964, The Masque of the Red Death, um filme adaptado de um conto de Edgar Allan Poe em que um príncipe europeu por volta do séc. XIV, magistralmente interpretado por Vincent Price, adorador de Satanás, aterroriza os camponeses enquanto dá festas luxuosas no seu castelo, protegendo os seus ocupantes de uma peste vermelha que assola a região. Deliciosamente teatral, The Masque of the Red Death é um filme de género fantástico superior, uma reflexão influenciada pelo Sétimo Selo de Bergman sobre luxúria, desejo e filosofia pós-morte pelas acções em vida, com uma realização inspirada de Corman que utiliza uma palete de cores fortes impressionante que só se veria assim elogiada no écrã com Suspiria de Argento para contar a sua intrigante história. O conto medieval de mistério dificilmente será superior a Masque of the Red Death no cinema.

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